sexta-feira, 5 de junho de 2009

Uma nova régua para medir valores e riquezas dos países

por Lucas Toyama
Uma sociedade que utiliza a bússola errada não se encontrará nunca. Foi essa a metáfora utilizada por Anne Louette, idealizadora e organizadora de “Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações”, para defender sua tese de que o PIB (Produto Interno Bruto) obsolesceu e não deveria ser utilizado como indicador. O PIB é a soma de todas os bens e serviços que são gerados numa região, de acordo com seu valor monetário.“O PIB não computa aspectos importantíssimos, como os sócio-ambientais. Estamos medindo de forma errada e, portanto, refletindo de maneira equivocada”, afirmou a pesquisadora durante o lançamento da obra, no dia 2 de junho, em São Paulo.
O projeto foi concebido para dar algumas respostas a essa inquietação. Ele contempla um amplo espectro, identificando novos modelos, métricas, indicadores e metodologias (são 25 ao total, veja lista em Box) empregados nessa mudança de paradigma que se faz necessária, visando à gestão das sociedades humanas para uma sustentabilidade de longo prazo. O BIP 40 – Baromêtre des Inegalités et de la Pauvreté -, por exemplo, contempla seis dimensões para medir a riqueza de uma nação: emprego e trabalho; renda; saúde; educação; moradia; e justiça.
“A proposta é apresentar padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerem aspectos ambientais, econômicos, sociais, éticos e culturais”, diz Anne. “Esses novos indicadores devem medir o que faz a vida valer a pena de ser vivida”, complementa.
Esse prazer pela vida, continua, certamente está relacionado a muito outros aspectos além do econômico. Afinal, o crescimento econômico está alinhado com o bem estar até certo ponto. Depois dele, inicia-se um projeto antropofágico consubstanciado pela perda de qualidade de vida, poluição, desmatamento, estresse, trânsito entre tantos outros obstáculos enfrentados diariamente por aqueles que auxiliam a roda da economia girar indiscriminadamente. Assim, cria-se a certeza de que é urgente questionar a legitimidade da afirmação de que o crescimento produtivo amplia o consumo que, por sua vez, eleva o sentimento de felicidade das pessoas.
Aliás, as pessoas estão felizes? Para tentar responder a essa questão, foi criado o FIB (Felicidade Interna Bruta), índice que abarca nove dimensões como bem estar psicológico, uso de tempo, vitalidade da comunidade, cultura, saúde, educação, diversidade do meio ambiente, padrão de vida e governança. “Saber medir felicidade é tarefa difícil, mas fundamental para que possamos gerenciá-la”, diz Anne.
Insanidade mental
Para Ladislau Dowbor, doutor em ciências econômicas, é inacreditável legitimar um indicador que acena positivamente quando se aumenta o consumo de gás carbônico, amplia-se o consumo de papel, contamina-se a água, intensificam-se as desigualdades sociais. “Crescer por crescer é a lógica das células cancerígenas”, afirma. Para ele, o PIB é insuficiente e tecnicamente absurdo por se elevar de forma diretamente proporcional ao crescimento da destruição. “Uma árvore em pé não diz nada para o PIB, mas uma árvore derrubada significa que a economia está aquecida. Por outro lado, o PIB reduz quando diminui o consumo e fabricação de medicamentos”, exemplifica. Ou seja, por essa ótica, o PIB estaria comprometido, apesar de a sociedade estar mais saudável.
O economista mostra-se preocupado com a resolução dessas questões porque dois terços da população não tem voz. A parcela que tem endossa o paradigma atual e não apresenta disposição para reverter a sangria da natureza, o adoecimento das pessoas e as inesgotáveis fontes de problemas que serão herdados pelas próximas gerações. Existe loucura maior que essa?
Sociedade atrofiada
As pessoas não imaginam mais, não sonham mais, têm medo e perderam a criatividade. No entanto, produzem como nunca. Não pensam, mas dão resultados. É isso realmente que se deseja?
Esse é o principal questionamento de Rosa Alegria, futurista e pesquisadora de tendências. “A civilização carece de sentido. Há um claro conflito entre a inteligência humana e a destruição que dela deriva. Criamos tudo, mas estamos infelizes. Para que tudo isso?”, indaga.
Rosa defende que, no mundo organizacional, programas de qualidade de vida serão inócuos se não vierem acompanhados de uma completa reconfiguração de mentes. O ser humano precisa ser visto de maneira integral. Só em sua integralidade é que ele pode ser feliz. “Para isso, ao conceito do triple bottom line, além das esferas econômica, social e ambiental é preciso adicionar uma quarta dimensão, que dê conta de mensurar o bem estar e a felicidade do ser humano”, diz.
Época de mudanças ou mudança de época?
A humanidade atravessa um momento de alterações substanciais. Trata-se de uma mudança em que a centralidade da vida, que esteve focada no material e tangível, deslocou-se para o intangível. E então, atributos como conhecimento, cultura e criatividade ganham importância dentro desse cenário. “Diferentemente da água, por exemplo, esses recursos intangíveis não apenas não se esgotam, somo são os únicos que se renovam e se multiplicam com o uso”, afirma Lala Deheinzelin, especialista em Economia Criativa. “Se eu divido com você uma maçã, temos metade cada. Se divido com você meu conhecimento, temos o triplo: o meu, o seu e o aquele que resultou dessa interação”, exemplifica.
Segundo Lala, numa perspectiva histórica, é bem capaz que, lá na frente, as pessoas olhem para os períodos atuais e questionem a loucura que está tudo por aqui, mais ou menos da mesma forma que, hoje, olha-se para os tempos da Inquisição e não se entendem exatamente as regras que regiam aquele momento. “É urgente que se pare e observe o que está acontecendo”, diz.
A artista defende que a mudança de paradigma, do tangível para o intangível, constituindo, assim, a chamada Economia Criativa, deve se dar por um motivo claro. A estrutura atual, alicerçada no tangível, é finita, inelástica. Ao se basear na quantidade, prioriza a escassez e cria um ambiente de disputa. O modelo que emerge do conhecimento, da cultura e da criatividade, por sua vez, trabalha com o intangível, recurso infinito e, portanto, elástico. Ao privilegiar a qualidade, em detrimento da quantidade, possibilita a economia da abundância, estimulando a cooperação, e não a destruição maciça.
Lala explica ainda que a Economia Criativa olha para o desenvolvimento segundo um conceito que difere substancialmente do de crescimento econômico. Ela contempla a multidisciplinaridade, integra a macroeconomia de escala com a microeconomia de nicho, gera mercado e inclusão social, possui forte interface com o terceiro setor e com a economia solidária e utiliza intensa e democraticamente a tecnologia.
“É necessário que seja colocados em prática indicadores que de fato mereçam esse nome, por incluírem as riquezas e a diversidade natural e cultural; os pilares das relações profissionais e pessoais: ética autoestima, solidariedade e confiança; e fatores que garantam qualidade de vida num sentido mais amplo”, diz. Só assim, continua, o homem parará de medir litros com régua.
Confira a lista dos 25 indicadores e índices de sustentabilidade de nações que compõem o compêndio.
1. Os princípios de Bellagio
2. IDH + IPH + IDG + MPG
3. GNH – Gross National Happiness
4. BIP 40 – Baromêtre des Inegalités et de la Pauvreté
5. BCN – Balanço Contábil das Nações
6. BS – Barometer os Sustainability
7. Calvert-Henderson Quality of Life Indicators
8. DNA Brasil
9. DS – Dashboard of Sustainability
10. EF – Ecological Footprint
11. EPI – Environmental Performance Index
12. ESI – Environmental Sustainability Index
13. EVI – Environmental Vulnerability Index
14. GPI – Genuine Progress Indicator (IPR)
15. GSI – World Bank’s Genuine Saving Indicator
16. HPI – Happy Planet Index
17. IDS – Indicadores de Desenvolvimento Sustentável IBGE
18. IEWB – Index of Economic Well-being
19. IPRS – Índice Paulista de RS
20. Isew – Index os Sustainable Economic Welfare
21. ISH – Index Social Health
22. LPI – Living Planet Index
23. RCI – Responsible Competitiveness Index
24. SF – Social Footprint
25. WN – The Well-being of Nations
fonte:http://www.canalrh.com.br/Mundos/treinamento_artigo.asp?ace_news={21C574DB-4201-437C-8538-64FCDA264

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