sexta-feira, 15 de maio de 2009

O escritório sem resíduos: é possível?

PorJonathan Bardelline

 

É um dos últimos, e mais modernos, conceitos ambientais. Metas de redução podem mudar várias vezes, mas não há nada inferior a zero (a menos que você considere a tendência crescente de empresas e produtos carbono-negativos ou clima-positivos, mas vamos chegar ao zero antes).

 

As grandes corporações comoWal-Mart e AAMCOdeclararam metas ambiciosas de resíduos zero e, portanto, deve ser possível que um escritório chegue lá também, certo? Depende do que você está olhando.

 

Existem produtos, tecnologias, processos e organizações suficientes para que seja possível, em um certo sentido, ter um escritório com resíduo zero (o que para o nosso  propósito significa sem resíduos e emissões de gases do efeito estufa). O resíduo zero no mais puro sentido não é possível ainda, mas utilizando o que está disponível, um escritório pode chegar bem perto.

 

"Neste momento o resíduo zero é mais uma jornada do que algo que pode ser alcançado", declarou Larry Chalfan, do Zero Waste Alliance, um consórcio sem fins lucrativos de grupos educacionais, de governo, empresas e outros. "Muito do que precisamos simplesmente não está pronto para nós para verdadeiramente chegarmos a resíduo zero. Dito isto, muito pode ser feito. Várias organizações estabelecem a meta ‘zero de resíduos para os aterros’ e, em seguida, a definem melhor, tendo como objetivo que mais de 90% dos resíduos sejam desviados para reutilização e reciclagem.”

 

Antes de assumir um programa de resíduo zero, um escritório deve realizar uma auditoria sobre o que está sendo usado e jogado fora. Inicialmente, aceite e execute primeiro as palavras do mantra "reduzir, reutilizar, reciclar". Diminua o que você está usando ao invés de trocarindiscriminadamente por alternativas amigáveis ecologicamente. Ao incentivar os trabalhadores a imprimirem menos, você está economizando papel, energia, tinta, toner e tempo.

 

O dinheiro economizado com reduções poderia ajudar a compensar os custos acrescidos de alguns produtos “verdes” ou financiar outras iniciativas “verdes”. Você também precisa de alguém dedicado à meta, ou um comitê de resíduo zero, a fim de supervisionar o projeto – descobrindo para onde os materiais recicláveis e de compostagem irão, pesquisando projetos de energia renovável e outras tarefas.

 

Onde você não pode usar menos, use de maneira mais inteligente. Papel reciclado. Canetas recarregáveis, lápis e cartuchos de tinta. Pratos, copos e utensílios reutilizáveis, biodegradáveis ou de compostagem. Lâmpadas de CCFL. Baterias recarregáveis. Calculadoras à base de energia solar. Tem havido um "boom" de produtos ecologicamente amigáveis em todas as indústrias, e não há escassez de produtos com, pelo menos, alguns aspectos “verdes”. As principais cadeias de fornecimento de escritório estão adicionando produtos “verdes” a seus catálogos, e no outro extremo, lojas de fornecimento ecologicamente amigáveis também estão vendendo produtos convencionais.

 

Deixando o espaço mais “verde”: Materiais de escritório amigos do planeta

TheGreenOffice.com é uma das muitas lojas “verdes” on-line, mas tem um dos mais extensos e informativos catálogos. Foi fundada em 2005 e marca cada produto com suas credenciais “verdes”: conteúdo reciclado, biodegradável, de compostagem, teor químico reduzido e certificações por terceiros, como a Energy Star e Green Seal. A loja também tem itens convencionais, sem similares “verdes”, com o objetivo de oferecer aos consumidores um lugar para irem, deixando que eles apoiem um negócio verde, mesmo quando o que estão comprando não é assim tão verde.

 

"A indústria de produtos de escritório tem pouquíssimos produtos que são concebidos no sistema “cradle to cradle” (sistema de produção que além de priorizar a eficiência, visa a não produção de resíduos)”, diz Alex Szabo, fundador e CEO do TheGreenOffice.com. "Hoje, nós encorajamos as pessoas a tomarem as melhores decisões que podem."

 

A empresa cresceu fora do trabalho de Szabo como um consultor de sustentabilidade. Uma de suas primeiras recomendações para as empresas é a criação de uma política de compra “verde”, mas ele não podia encontrar uma solução abrangente para itens de escritório “verdes”. "Estamos trabalhando para realmente acelerar a transição para a sustentabilidade no local de trabalho", ele disse, mas isso não irá acontecer através da venda de varejo sozinha. "Os fabricantes e designers realmente precisam levar em conta todo o ciclo de vida", afirma. E isso pode ser estimulado juntamente com o incentivo vindo dos clientes.

 

Embora o Waldeck localizado em São Francisco também tenha uma loja on-line, ele teve uma presença física no varejo por mais de 50 anos e começou a se concentrar em produtos ecológicos há quatro anos. O proprietário Clifford Waldeck tinha servido em conselhos e comissões ambientais e disse que queria praticar em seu negócio o que ele pregava fora dele.

 

A loja do centro da Waldeck, em São Francisco, está no meio de arranha-céus de escritórios - justamente o local onde os produtos ecológicos devem estar, disse Waldeck. "Ter a presença do varejo faz a mensagem ‘verde’ ser transmitida para o consumidor", afirma. Mas as lojas de varejo com um enfoque global “verde” são muito poucas. Embora tenha acontecido muito investimento na indústria de tecnologia limpa, Waldeck desejava que tivessem existido investimentos no varejo “verde”.

 

Para muitos, os lugares mais fáceis de encontrar produtos “verdes” são as grandes cadeias de lojas que estão entrando nas vendas “verdes”. Em 2003, a Office Depot lançou o seu Green Book, um catálogo de 1300 produtos ambientalmente indicados. Ele contém agora mais do que o dobro de produtos, e ainda mais itens estão na seção online do Office Depot, oBuy Green. A empresa oferece produtos em vários graus de “verde”, por exemplo, do papel contendo  10% de material reciclado a 100% do papel de pós-consumo reciclado. "Nós acreditamos que o caminho mais eficaz para a sustentabilidade é através do incentivo a mais pessoas dentro de mais empresas a dar pequenos passos tendo o meio ambiente em mente", segundo explicou por e-mail a relações públicas da

 

Office Depot, Melissa Perlman.

Mesmo os móveis de escritório estão sendo planejados para causarem um menor impacto sobre o planeta. McDonough Braungart Design Chemistry(MBDC) comanda o programa de certificação Cradle to Cradle (C2C), que rotula produtos que tenham "design ambiental inteligente", e certificou 12 marcas de cadeiras de escritório. O processo de certificação do MBDC não olha somente para os produtos em si - determinando se ele pode ser integralmente devolvido à natureza ou reciclado indefinidamente - mas também o material utilizado, que energia o processo de fabricação utiliza, que tipo de água e qual a quantidade é utilizada e o histórico da responsabilidade social da empresa.

 

O MBDC também trabalha com as empresas para aperfeiçoarem os seus produtos, atuando com eles na melhoria e reciclagem dos mesmos; Disse a gerente assistente de projetos, Emily McDermott:. "Alguns de nossos clientes têm programas de retorno de produtos, onde  o consumidor tira parte do produto e envia para eles a caixa com os pedaços e eles garantem que os materiais são recolocados em seus próximos produtos”,.

 

O MBDC certificou cerca de 100 produtos de 43 empresas, e aproximadamente mais de 20 estão em processo. Produtos aplicáveis aos escritórios incluem revestimentos para pisos, mobiliário, estações de trabalho, envelopes, lousas-brancas e itens polivalentes para fins de limpeza. McDermott disse que o MBDC está especialmente interessado em certificar produtos mais orientados para os consumidores. "Achamos que é necessário oferecer produtos cradle to cradle nas prateleiras das lojas", ela diz.

 

Um dos maiores nomes do MBDC entre produtos certificados é Herman Miller, um líder de longa data em mobiliário de escritório sustentável. Em uma entrevista para o GreenBiz.com no ano passado, Paul Murray, o diretor de saúde ambiental e segurança da Herman Miller, explicou a razão pela qual a empresa acredita que a forma correta nem sempre é o caminho mais fácil. "Levou milhares de horas de trabalho para garantir um banco de dados documentando cada produto químico e material utilizados em cada produto Herman Miller", conta Murray. "Foi fácil? Não. Mas o resultado é que vamos ter produtos mais ‘verdes’ para o futuro."

 

Todo produto “verde” vem em variações. O conteúdo dos reciclados varia muito, e mesmo se um item é 100% reciclado, é importante se for pós-consumo (a partir de itens descartados pelos consumidores) ou pré-consumo (resíduos da fabricação de novos produtos). Quando possível, é melhor escolher pós-consumo. Com itens recicláveis, você também tem que levar em consideração o que acontece no final da vida deles. Não adianta muito comprar itens recicláveis se seu programa de reciclagem local não aceita o material do que o produto é feito. Algumas áreas têm mais programas de reciclagem disponíveis, que incluem mais tipos de materiais do que outros.

 

Quando os itens não podem ser reciclados, algumas vezes eles podem ser reutilizados, por isso verifique com escolas e centros comunitários, ou veja se há grupos locais como o East Bay Depot for Creative Reuse, de Oakland, na Califórnia (EUA), que aceita doações de um vasto leque de itens. Os eletrônicos são itens difíceis. Pouquíssimos contêm quantidade significativa de conteúdo reciclado, mas felizmente cada vez mais os fabricantes de computador, lojas de varejo e organizações recolhem os eletrônicos ou promovem eventos de coleta de resíduos eletrônicos.

 

Uma definição mais ampla de lixo

O outro tipo de lixo reciclável, em certo sentido, é o resíduo alimentar e outros materiais de compostagem. Criar um recipiente de compostagem em um escritório poderia não ser atrativo para todos, mas algumas áreas têm programas de captação de compostagem, e você pode ter espaço fora do escritório para instalar um recipiente de compostagem ou um funcionário pode ter o seu próprio em casa e estar disposto a levar o resíduo adicional com ele. Assim como doar itens que de outra forma seriam lixo, perguntando ao redor, é possível encontrar pessoas que aceitariam alguma coisa que fosse gratuita.

 

Enquanto um escritório pode ter um controle rigoroso sobre as coisas que compra e usa, nem sempre tem poder sobre o que é enviado a ele. O correio pode trazer papel, embalagens e resíduos indesejáveis. Novamente, a redução é o primeiro passo. Estabeleça a comunicação por e-mail como padrão e saia de listas de mailing indesejadas. A USPS tem uma variedade de C2C Certified priority (Consumer to consumer = Certificados de prioridade elaborados entre os próprios consumidores), pacotes de correio expresso e envelopes, e companhias de envio como a UPS e a FedEx têm embalagens recicláveis para quando for necessário utilizar o correio. Materiais para embalagens também podem ser reutilizados mais de uma vez. E se você tiver que comprar o seu próprio, existem pechinchas biodegradáveis disponíveis, ou o onipresente e reciclável jornal.

 

Resíduos físicos à parte, os escritórios também têm que lidar com a energia e as emissões. Embora instalar um sistema de painel solar ou geotérmico pode ser demais para muitos escritórios, existem alternativas que podem apoiar a energia renovável e projetos de redução de carbono no próprio local ou em outro lugar.

 

Green-ese tornou o principal programa de verificação para certificados de energia renovável e de projetos de redução de gases do efeito estufa. O diretor de comunicação da Green-e, Jeff Swenerton, recomenda em principio a redução da energia e, em seguida, verificar com empresas de serviços públicos locais a existência de programas de recompensa financeira “verde” para a compra local de energia renovável. Embora esses programas estejam crescendo em todo o país, Swenerton diz que a taxa média de participação é inferior a 2%.a

 

Se uma empresa de serviços públicos não oferece um programa de recompensa financeira “verde”, existem certificados de energias renováveis à disposição de qualquer pessoa. Os preços variam por área e tipo de energia. Embora você não vá acabar recebendo energia diretamente de uma fonte renovável, você poderia ajudar a mostrar que há apoio para as energias renováveis. A Intel, que recentemente fez a maior aquisição de energia renovável, não comprou somente a energia mais barata, diz Swenerton. A empresa comprou energia renovável, onde tem unidades, juntamente com uma mistura de outros tipos de energia.

 

Se você tem os recursos, orçamento e espaço, é possível obter a sua própria energia do sol, vento ou da terra. O que entra em jogo, porém, é o quanto você tem de controle sobre o edifício onde se encontra e os terrenos adjacentes. O mesmo vale para renovações, como melhores janelas e isolamento para deixar o escritório mais eficiente energeticamente. Descubra o que você controla, para seguir a partir daí.

 

Tornar-se neutra em carbono ou reduzir as emissões através da compra de compensações de carbono são as reivindicações pelas quais as empresas que se tornam “verde” sentem maior orgulho. Mas os especialistas concordam que isso deveria ser uma das últimas ações a serem tomadas,, concentrando-se primeiro em reduzir a utilização de energia, diminuir as emissões relacionadas com deslocamento do funcionário ao trabalho e de outros fatores que você tem controle direto.

 

Há uma série de calculadoras de carbono disponíveis on-line: experimente algumas que usam critérios diferentes para obter uma boa estimativa da sua porcentagem ecológica. Aqui você também terá que determinar quais emissões estão relacionadas ao escritório. As emissões vindas do uso da energia são claramente aplicáveis, como são as emissões relacionadas às viagens aéreas feitas pela empresa. A maior parte das calculadoras de carbono incluem as emissões de empregados que realizam o caminho de ida e volta para o trabalho, mas se você tem funcionários que trabalham em, casa, você precisa incluir as emissões deles também. Você pode também ir mais longe, como compensar as emissões provenientes de todas as suasremessas ou eventos que oferece.

 

Como uma forma de reduzir as emissões vindas da locomoção dos empregados, os escritórios podem adotar políticas de telecommuting (flexibilidade de horários e locais de trabalho), permitindo ou incentivando os funcionários a trabalharem em casa ocasionalmente ou com freqüência. Caronas, ciclismo e transporte público podem igualmente ser incentivados, através de recomendações ou ao oferecer incentivos para os trabalhadores que escolhem o caminho verde. Motivar os trabalhadores para que eles participem ou que sugiram metas de sustentabilidade é uma grande conquista dos escritórios mais “verdes”.

 

Tomar todas estas medidas pode ajudar o escritório a chegar tão próximo do resíduo zero quanto possível. Como se disse anteriormente, não existem produtos e processos vigentes suficientes para garantir que cada item tenha seu círculo de vida fechado e que com certeza ele será reciclado ou reutilizado. E qualquer escritório que seja totalmente resíduo zero teria que incluir restrições que podem ser desagradáveis para alguns empregados. Trazer o seu próprio almoço? Melhor ter certeza de que ele não está em uma embalagem que terá de ser jogada fora ou então você terá que levar o seu lixo para casa.

 

Apesar da impossibilidade de ter absolutamente zero de resíduos, as coisas estão melhores do que eram há alguns anos. Mais lojas estão estocando produtos ecológicos, os esforços para a reciclagem estão se alastrando, projetos de energias renováveis e de redução de carbono estão disponíveis em todo o mundo, mais grupos e consumidores estão forçando as empresas a fazerem produtos “verdes” e há uma consciência crescente  entre todas as indústrias da necessidade que todos reduzam o seu impacto sobre a Terra, seja em casa ou no escritório.

 

Jonathan Bardelline é editor assistente do GreenBiz.com.

Fonte:

http://www.agendasustentavel.com.br/Artigo.aspx?id=1687

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