sábado, 9 de maio de 2009

Quem decide sua felicidade no trabalho?

Floriano Serra*

Profissionalmente, você pode estar numa “armadilha” que não agrega felicidade à sua vida. A “culpa” pode ser da empresa ou do seu chefe, mas a responsabilidade de escapar dela é sua. Tenho um grande amigo, empresário, que tem como preocupação permanente a felicidade dos seus colaboradores, em todos os níveis - inclusive na mesma proporção da importância que dá aos resultados da sua empresa. Ele não consegue imaginar uma coisa sem a outra. Ele acha – e eu concordo em gênero, número e grau – que lucro sem compartilhamento de felicidade, não é modelo de gestão: é exploração. Ele pratica, na sua empresa, a “gestão do Bem”, tornando-a um lugar onde se trabalha feliz. Constantemente ele me nutre de boas idéias para artigos – e este aqui nasceu, como tantos outros, de uma conversa com ele a respeito desse assunto – felicidade no trabalho. Portanto, cá estou, com minhas elocubrações. Não é novidade para ninguém que o trabalho tem sido – e, em muitos casos ainda é – motivo de infelicidade para muita gente. Tanto isso é verdade que “70% dos trabalhadores do Brasil sofrem de estresse e 30% deles estão no pior nível da doença, com tendências ao suicídio”, conforme dado divulgado, há algum tempo, pela ISMA (International Stress Management Association), seção do Brasil. O jornal “Diário de S.Paulo”, em abril, citando pesquisa da Dra.Margarida Barreto, que ouviu 2.072 trabalhadores para sua tese de mestrado pela PUCSP, divulgou que “constrangimento, humilhação e desrespeito fazem parte do dia-a-dia de 42% dos trabalhadores de S. Paulo. Submeter os funcionários a situações vexatórias é um artifício cada vez mais usado por empresas para garantir a produtividade.”. Que coisa feia, hein? Mas há luz no fundo do túnel. Apesar de todo esse quadro deprimente por parte do mercado de trabalho, posso assegurar aos leitores que existem muitas empresas em São Paulo – e certamente em outras cidades brasileiras – nas quais as pessoas são felizes, trabalham com real satisfação. Existem muitas empresas que desenvolvem e implantam programas e práticas voltadas para o bem estar dos seus colaboradores. Empresas que levam muito a sério a questão do respeito à auto-estima das pessoas e que dão grande importância à qualidade do clima interno das suas organizações, com ênfase para a alegria, a afetividade e a qualidade de vida dos funcionários e seus familiares. Ao mesmo tempo, estimulam o gosto pelo estudo, pela arte, pelo esporte e pelo desenvolvimento pessoal e profissional da turma. E tudo isso sem comprometer o lucro e a remuneração dos acionistas. Esses empresários fazem mágica? Nada disso. Apenas sabem que as empresas hoje precisam ter “consciência de que as pessoas são feitas de corpo, mente, emoções e espírito” e que, por isso mesmo, “não podem mais serem vistas como coisas a ser controladas e reguladas”, como só agora reconhece o “guru” (aaaaargh!) Stephen Covey em entrevista recente. Não vou nem falar do meu “A Terceira Inteligência” para que este artigo não pareça comercial. No entanto, gostaria de apontar alguns aspectos dessa questão da felicidade no trabalho. Para mim parece óbvio que a felicidade não é obtida pela informação nem pelo conhecimento – porisso mesmo não há MBAs, mestrados ou doutorados nessa matéria. A felicidade é internalizada através de percepções e sentimentos. Ninguém sabe que é feliz, mas sente que o é. A felicidade deve ser descoberta, deve ser encontrada dentro da própria pessoa. Ela só pode ser conquistada por você dentro de você. Ninguém tem o poder de fazê-lo feliz, porque a porta que dá acesso ao seu coração abre-se de dentro para fora. Só entra ali o que e quem você permitir. Alguém ou algo precisa cativá-lo a ponto de dar-lhe o sentido e o sentimento da felicidade. Quantas pessoas à sua volta se esforçam para fazê-lo feliz e não conseguem? O que estou querendo dizer é que, mesmo que os estímulos geradores da felicidade sejam externos, o processo que conduz à autopercepção da mesma é exclusivamente interno. Dependem da sua receptividade para se tornarem efetivos. Por outro lado, os fatores geradores de felicidade não valem igualmente para todas as pessoas. Cada uma tem sonhos, necessidades e expectativas próprias e diferentes das demais. O que me faz feliz pode não ter o mesmo efeito para você. Alguns necessitam de pompa e circunstancia para isso, outros encontram a felicidade em coisas simples e rotineiras. Eis o resumo do que quero dizer: ser feliz no trabalho é um direito seu, mas é também uma responsabilidade sua. Claro que um lider de verdade pode contribuir – e muito – para que você se sinta feliz no trabalho. Eu disse um lider de verdade. Não me refiro aos que são chamados de “líderes” por força do cargo, equívoco que muita gente boa comete. Cargo não outorga liderança a ninguém. Liderança é uma qualidade pessoal e intransferível; não depende de estruturas nem de sistemas para ser legitimada. Sobre esta questão, no meio de tantas definições de liderança que há no mercado, tenho a pretensão e a ousadia de ser simples: Liderar é produzir resultados através de pessoas felizes. É simples assim. Para mim a verdadeira liderança consiste em promover e permitir a felicidade entre os liderados, de forma a fazê-los voluntariamente perseguir e atingir os objetivos com motivação e comprometimento. Não pretendo ensinar ninguém a ser feliz – já disse que felicidade não se aprende. Também não quero ensinar ninguém a ser líder. Todos somos líderes em estado latente. Assim como a felicidade, o potencial da liderança está dentro de cada pessoa. Tudo do que precisamos é trazer essas energias para fora, praticá-las e compartilhá-las. Como disse o médico austríaco Wilhelm Reich, o criador da Bioenergética, “o primeiro passo para escaparmos de uma armadilha é reconhecer que estamos numa.” Profissionalmente, você pode estar numa “armadilha” que não agrega felicidade à sua vida. A “culpa” pode ser da empresa ou do seu chefe, mas a responsabilidade de escapar dela é sua. Com calma, bom senso, planejamento, ética e profissionalismo, mas com determinação. Pense a respeito. Veja o que dá para fazer para mudar o cenário. E tente. E tente outra vez. Mas não esqueça de que há um limite além do qual a paciência deixa de ser virtude. No meu livro “A Terceira Inteligência” conclúo um dos capítulos repetindo um sábio provérbio chinês. Conclúo este artigo com a mesma frase, porque ela tem tudo a ver com a busca da felicidade: "Não tenha medo de crescer lentamente. Tenha medo apenas de ficar parado.”

*Floriano Serra é psicólogo, diretor de RH e Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica, autor do livro “A Terceira Inteligência” (Butterfly Editora), 2a. edição. floriano.serra@apsen.com.br

http://www.gestaodecarreira.com.br/ldp/qualidade-de-vida/quem-decide-sua-felicidade-no-trabalho.html

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